https://www.youtube.com/watch?v=vNErQFmOwq0
Nesse vídeo essa mulher faz várias afirmações que não resisti em discordar e demonstrar os equívocos.
Doze objeções para esse vídeo:
Primeiro: Tratar todos de forma absolutamente igual não garante igualdade material. Exemplo? Forçar todos a usarem escadas, ou então não ter assentos para deficientes nos ônibus. ''Não é pra tratar todo mundo de forma ABSOLUTAMENTE igual?!?!?''. Igualdade consiste em tratar os iguais igualmente e os desiguais desigualmente, na medida de suas desigualdades, de forma a colocar os diferentes em patamares de igualdade. Medidas inclusivas, politicas afirmativas e benefícios fazem parte do processo de equalizar os diferentes, porque, de novo, já estão em um patamar de desigualdade inicial. É ilusório, para não falar DESONESTO, presumir que homens e mulheres nascem em patamares de igualdade dentro do nosso contexto social.
Segundo: É dever de um sindicato prezar pela situação de patrões? É dever do movimento negro zelar pela situação dos brancos? É dever do movimento LGBT zelar pela situação dos heterossexuais? Se não, também não é dever do feminismo zelar pelos homens. Se os homens estão tendo problemas relacionados ao fato de serem homens (que existem, por exemplo, o TG), somos nós que temos que lutar para corrigir esses problemas, não as mulheres.
Terceiro: 140 mil homens são estuprados EM PRESÍDIOS anualmente....porque são homens? Ou porque eles passam anos prolongados sem nenhum estímulo sexual, e isso leva alguns criminosos (os mais desinibidos e violentos) a abusarem de outros homens dentro das dadas circunstâncias? Quantos homens sofrem isso FORA DOS PRESÍDIOS? Ela não diz isso (o que não duvido que existam casos assim, mas, DE MODO ALGUM, são tão frequentes como com as mulheres). Curioso. Até porque, pelo menos fora dos presídios, as pessoas que mais sofrem casos de estupro (e estupro não se trata de apenas sexo penetrativo, tá?) são, de fato, as mulheres. Não só isso, mas como são assediadas na rua com cantadas e por vezes até mesmo agressões, serem estupradas em ônibus e metrôs, como também são destratadas por serem mulheres em ambientes públicos, em shows de humor e na mídia num geral.
Quarto: ''Quase metade...'' Quanto? 30-40%? E os outros 60%? ''Ahhh, mas homens sofrem violência e ninguém fala nada!'' Talvez porque a nossa sociedade ''nada machista'' considera que homem que apanha de mulher é uma ''mariquinha'' ou um ''viado''? E vale ressaltar que nesse ultimo podemos ver relações entre machismo e homofobia, por tratarem de questões referentes a papeis de gênero do homem. Ou seja: machismo se voltando contra os próprios homens. Como o machismo é bom, não é mesmo? É tem lunáticos no Facebook defendendo que ''precisam do machismo''. Sou homem e falo com todo o ar dos meus pulmões: eu não preciso, eu não quero, e para isso estou disposto a quebrar vários paradigmas!
Quinto: As mulheres tem atendimento especial por causa do que já foi explicado na primeira objeção. Muitas têm de ir numa delegacia depois de um estupro e o atendimento tem a cara de pau de perguntar ''mas você tem certeza?''. A grande maioria dos casos de estupros não são reportados para a polícia (seja por medo, seja por coerção/intimidação); e quando são, ainda por cima tratam como se a mulher estivesse apenas sendo paranoica e tendo delírios. No vídeo ela está simplesmente sendo ingênua (caso não esteja sendo desonesta) sobre o tratamento que pelo menos a maioria das mulheres recebem em casos de abusos referentes ao gênero feminino.
Sexto: De todas as porcentagens de morte que ela falou, alguma está relacionado diretamente ao fato de ser homem e sofrer abusos e pressões sociais pelo fato de serem? Homens se suicidam por terem uma vida desgraçada pelo fato de serem homens? Ou talvez por questões financeiras, familiares, socio-econômicas, psicológicas? Morrem no trabalho mais que mulheres? Talvez porque a própria sociedade prega que trabalhos perigosos são ''trabalho para um homem''? Porque os homens tem ''o dever de proteger as mulheres, porque elas são frágeis e fracas''? Talvez uma das causas de morte tenha sim relação: as mortes em combate. Até porque ''GI Joe'', ''Max Steel'', ''Rambo'', ''jogos de FPS'' e Forças Armadas é ''coisa de garoto''. Não obstante, é exatamente por isso que a sociedade chama soldados de ''nosso pessoal'' ou ''nossas pessoas'' ao invés de ''nossos homens'', ''nossos combatentes'' ou ''nossos garotos''. Se alguém tem culpa desse dado estatístico, de novo, não são as mulheres: são os homens (em especial os que abertamente pregam atitudes e conceitos machistas, disseminando e enraizando esses valores tanto em mulheres quanto em homens, se orgulham disso, lucram e dominam em cima dessa ideia desses padrões criados para ''homem'' e para ''mulher''). É graças a esse tipo de homem que muitos de nós, homens, nos fodemos em determinados casos. E na maioria dos casos, de maneira latente, as mulheres se fodem MUITO. E não devemo descontar esse fato nas feministas e nas mulheres em geral, pois não foi delas que surgiu esse tipo de pensamento. Foi de nós mesmos, há varias e varias gerações passando essa tradição estúpida para frente
Sétimo: Sim, homens TAMBÉM ESTÃO sujeitos a padrões sociais que nos forçam a agir e pensar de tal maneira (como por exemplo o padrão do corpo saradão, e aí entra mais um estigma social: a gordofobia. No caso das mulheres, muitas chegam a ficar desnutridas, bulímicas e anoréxicas para atender a um padrão de beleza CRIADO para atender os interesses de alguns) A pergunta é: onde isso é culpa original das mulheres? Por acaso elas estão na posição de dominação na relação de poder para estabelecer esses padrões? Ou são alguns homens que inventaram esse padrão social para dominar tanto homens quanto mulheres (e especialmente as mulheres)? Ou seja: mais razões para os homens começarem a rever os privilégios e desconstruir o próprio machismo. O machismo se volta contra muitos de nós, homens. E isso é culpa nossa, como um grupo social, e não das mulheres e/ou das feministas.
Oitavo: Todos os homens, em um ponto ou em outro, são privilegiados, enquanto que as mulheres são oprimidas (podendo varias em muitos aspectos, tal como uma mulher branca vs. uma mulher negra, ambas mulheres e uma sofre ainda mais que a outra pela etnia a qual pertence). Isso é um fato que pode ser observado todo dia, das mais diversas maneiras, seja sutilmente ou abertamente. Aceite isso de uma vez. Negar esse fato é simplesmente não querer observar a realidade a sua volta.
Nono: Sobre os benefícios inclusivos que ela falou que recebe por ser uma mulher, vide objeção numero um. Só tenho um comentário a respeito disso: se dependesse tão somente dos homens, você ainda estaria trancada em casa, fazendo a janta e lavando a louça, sem o direito de votar, trabalhar e possuir propriedade, além de no fim do dia ser coagida a transar com seu marido, por mais que você não esteja afim, e ninguém ia ver isso como estupro, pois como é possível um dos cônjuges estuprar o outro?!?. Afinal de contas, ele é o ''patriarca da família'', um homem ''pai de família, cidadão de bem e trabalhador'' preservador da ''tradicional moralidade e os bons costumes''. Muitas mulheres, infelizmente, ainda estão sob esse abuso criminoso. O que as feministas conseguiram ao longo da história, pelo menos, foi lutar por um pouco de dignidade, respeito, espaço e poder para que algumas mulheres não tivessem que viver sob esse tipo de condição.
Décimo: ''Ambos os gêneros têm problemas'' Concordo EM ABSOLUTO com isso...o que não significa que agora as mulheres têm de ''virar babá'' dos homens. É dever nosso (dos homens) de rever nossos privilégios (que inegavelmente EXISTEM) e desconstruir nosso próprio machismo (que as vezes se volta contra alguns de nós; e tanto nós como as mulheres não estão blindados à praticas e pensamentos sexistas, em especial os homens por estarem na posição de dominação na relação de poder, o que torna ainda mais difícil para nós, homens, percebermos nossos privilégios.) Quem tem muito poder dificilmente vê as cagadas que faz (e por vezes se voltando contra sí próprio). Vale lembrar: a conditio sine qua non para existir o feminismo foi os homens decidirem serem cuzões para inicio de conversa.
Décimo primeiro: Se ''merecer'' fosse tudo o que bastasse para conseguir algo nessa sociedade, acredite: não estaríamos aqui agora. As oportunidades na nossa sociedade NÃO SÃO iguais para todos (e ela leva em conta coisas menores, como por exemplo, gênero, para segregar alguns em detrimento de outros). Se trabalho duro e mérito fossem as únicas coisas necessárias para viver dignamente, o pessoal que corta cana no Nordeste (e dentre esse pessoal existem MUITAS mulheres) não estaria vivendo em situações tão duras como estão, ao mesmo tempo que têm de conviver com gente falando que distribuição de renda é ''compra de votos'' e ''esmola pra vagabundo não trabalhar'', tipo que nem a maioria do pessoal revoltado de classe média-alta no Facebook.
Décimo segundo: Até onde eu sei (e por tudo que pode ser analisado até agora), quem está involuntariamente (ou não?) criando um mundo de ''sexismo reverso'' são esses machos de Facebook que procuram UMA mulher que é contra o feminismo (e se valendo de argumentos demonstradamente falhos para tal) para deslegitimar a luta de MILHARES de mulheres (nacionalmente e mundo a fora), de várias épocas e momentos, para uma sociedade sem discriminação de opressão de gênero.
Essa é minha opinião e estou sempre aberto a criticas e comentários, desde que com respeito, tolerância e argumentos válidos.
Boa noite.