quinta-feira, 10 de março de 2016

Filosofagens no Rio Paraná

Estava no Rio Paraná esses dias em uma chacara, e não pude deixar de parar um pouco, sentar na praia, pegar meu caderninho e ficar observando a paisagem.

Aos poucos, fui escrevendo o que se passava pela minha mente, dentro de meu momento introspectivo.

Esse foi o resultado:


Me encontro entre o Natural e o Construto.

Numa dimensão entre dois mundos opostos e que complementam esse vasto.

Observo o Céu azul, em todo seu explendor, cobrindo a rica Terra.

As nuvens em formatos, que apenas os deuses podem compreender.

O som das ondas batendo na praia: uma doce e agradável sinfonia que meus ouvidos escutam.

Cachorros correndo e se banhando, para refrescarem-se do cobertor natural que o Sol tece.

As águas turvas do Rio Paraná emanam com vida, muitas vidas.

Cada uma lutando para sobreviver.

O medo da presa e o prazer da caça bem sucedida.

Os peixes e as arraias disparam como dardos pelas águas agitadas do rio que molha meus pés.

Águas refrescantes que aliviam o calor.

Calor esse que, ao mesmo tempo desgastante e fadigante, é confortante.

O velho e familiar calor de sempre.

A areia queima meus pés, apenas para demonstrar o poder e a grandeza excelente que emanam do Sol Invencível.

É tão extenso o alcance que meus olhos deslumbram, como se estivesse a descobrir terras desconhecidas.

Imagino o que os pássaros que voam pelos Céus enxergam?

Meus pés molhados agora secam na areia fria encoberta pelas sobras das árvores, enquanto que me atravessa um frescor verdejante, assoprando o calor que me acoberta.

O som da fauna e da flora é ao mesmo tempo fascinante e intimidante.

Que animais será que espreitam na vasta e misteriosa vegetação que cerca o litoral?

A vida é uma aventura cheia de surpresas, perigos e mistérios que jamais desvendaremos.

Somos animais tão frágeis, pequenos e e fracos, apesar de nosso engenho, destreza, abstração e racionalidade.

A verdade é que apenas nos mudamos de selva.

A grama se tornou o asfalto, as árvores se tornaram arranha-céus e o rio, um esgoto.

Mas o perigo, o medo e a incerteza persistem.

Nada melhor do que ver a Natureza como ela é: cruel, fria, interessante, misteriosa, viva e fascinante!

Insetos peçonhentos, arraias inscidiosas e serpentes mortais, mas cá estamos.

Ente dois mundos distintos que formam Um.

A Luz do Sol me cega com seu brilho irradiante e áureo. Luz que ilumina toda essa Terra e faz crescer frutos férteis.

Luz que aquece e fortifica, rejuvenescendo minhas forças e que me faz sentir leve como uma pluma. Água que abastece vilarejos e toda fauna e toda a flora que encobre esse planeta azul.

Nosso Lar.

Vejo ao longe uma Ilha.

Ela é simplesmente bela.

Vejo-me nessa Ilha: cercada por águas transitórias, enquanto oculta os mistérios que vivem dentro dela. A minha vida vale a pena para mim.

Tenho uma família que me ama, bons amigos.

Nada me falta, seja no prato, no armário ou na minha caneca.

Desfrutei de muitos prazeres nessa minha breve vida. E não nego nenhum.

Eles são o leite no amargo café da Vida. Vi várias faces das inúmeras faces da Existência, e serei, até o dia em que morrer, ignorante sobre um numero cósmico dessas faces.

Viverei como morrerei: ignorante e perdido nessa grande aventura.

Olhar para essa Ilha me faz perceber o quão bem aventurado sou.

Sem nenhum mérito, escolha ou destino.

Simplesmente estou aqui.

E vou aproveitar tudo o que a vida pode me propor, que irá me fazer viver de maneira introspectiva, questionadora e divertida.

Vou me divertir pra caralho ainda. Se divertir para caralho.

Eis algo que acho que todos deveriam poder tentar uma vez na vida.

Como se fosse um mandamento sagrado.

E tudo isso porque estou observando uma ilha no meio de um rio.

A Ilha e Eu. Incrível como algo tão simples e despercebido por todos pode inspirar reflexões profundas sobre a própria existência.

A água que me purifica, que me banha e a qual eu bebo; a Terra firme e sólida na qual consigo sustentar-me; o Ar fresco que refresca e me permite respirar; a Luz que me aquece, me ilumina e faz crescer os bons frutos de Gaia, e a partir destes, uma fauna exuberante e diversa.

Alguns desses frutos e dessa fauna morrerão para que eu viva mais um dia.

A cruel realidade da Natureza. Mate ou seja morto.

Talvez seja essa a razão pela qual nós mudamos de selva e inventamos coisas que nos distraem e fazem escapar dessa cruel realidade.

Mate ou seja morto.

Música, artes plásticas, poesia, dança, teatro, literatura, esportes, máquinas, cinema, culinária e gastronomia, entorpecentes, arte erótica e sensual, filosofias e religiões das mais variadas....Inventamos tudo isso, junto com outras razões para matar e ser morto.

Razões e construtos demasiadamente humanos.

Nossos.